terça-feira, 11 de dezembro de 2007

AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS E CIENTÍFICAS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O PAPEL DA EDUCAÇÃO



Uma reflexão sobre as mudanças tecnológicas e científicas e como elas se relacionam com o mundo da educação, a necessidade de repensar, relacionar esse mundo com as mudanças trazidas pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia Algumas mudanças virão a partir do uso dessas novas ferramentas, mas o mais importante é a repercussão dessas mudanças tecnológicas na sociedade e é essa nova sociedade que impõe novas concepções educativas.
Joan Majó denomina a nova sociedade da informação, a “sociedade digital”, como “sociedade do conhecimento” e identifica tendências que surgiram a partir das mudanças tecnológicas e científicas.

As mudanças na economia

A primeira tendência aborda as mudanças na economia mostrando que os custos dos materiais necessários ao processamento de dados caíram e sua capacidade de informação aumentou. O avanço da microeletrônica, da fibra óptica ou dos satélites aumentaram além de nossas necessidades e podem ser considerados até ilimitados. Os problemas de volume, distância e tempo foram superados e o seu custo se tornou insignificante.

As mudanças tecnológicas: a digitalização

O uso do código digital transformou toda a informação em informação numérica. A convergência de códigos supõe a convergência de tecnologias propiciando a fusão das redes fazendo surgir um novo tipo de empresa multimídia.

A liberalização das telecomunicações

O processo de liberalização do setor faz telecomunicações constitui uma tendência política. Segundo Majó “A combinação de liberalização e privatização supõe passar de um modelo baseado no serviço público para outro baseado no mercado. Não só se introduziu a competição e a liberdade de atividade, mas se mercantilizou todos os serviços e seus conteúdos.”

Algumas conseqüências previsíveis.

Estamos vivendo um momento de transição da sociedade industrial para a sociedade globalizada do conhecimento.
As tendências acima citadas propiciam uma superabundância de informação na qual será importantíssimo saber selecionar o que é útil; a combinação de liberdade de mercado, redução de custos e convergência tecnológica provocará uma grande concentração de empresas no ramo da informação; a grande quantidade de informação e a redução do custo para torná-lo disponível, supõe que o elemento-chave no processo de produção outros fatores clássicos e de produção serão substituídos; a facilidade , a rapidez e o volume de informações acelera a circulação das mesmas e isso por sua vez, acelera a mudança social. A partir da aceleração dos conhecimentos a renovação dos mesmos é radical e rápida e as pessoas precisam estar preparadas para esse novo tempo.

Sugestões

Joan Majó afirma que é necessário perguntar se a escola continua sendo útil.
-Crê que é preciso recolocar o sistema educativo em sua função social. “A relação das pessoas com o sistema educativo, em um sentido muito amplo, deve durar toda a vida porque a necessidade de completar, revisar ou mudar totalmente os conhecimentos durará toda a vida. E não será somente uma pequena reciclagem ou um acerto de contas, mas uma verdadeira reeducação. ... Temos de considerar que a educação é uma atividade humana que tem de ser realizada, não só nas primeiras etapas da vida, mas ao longo de toda ela. E, se uma contínua revisão dos conhecimentos será- e já é – uma necessidade para as pessoas e organizações, é necessário rever a natureza do sistema educativo. Isto é , faz-se essencial fundar instituições que possam se responsabilizar pela tarefa de aprender ao longo da vida, e é preciso, entre outras coisas, estabelecer o sistema de financiamento de tal atividade.”
-Acredita que os conteúdos do ensino inicial sejam radicalmente diferentes do que são hoje. “Podemos inculcar habilidades e motivações para adquirir conhecimentos, assim como a liberdade de espírito para poder muda-los sem traumas. O importante é formar pessoas preparadas para aprender de forma contínua. Mas tão importante quanto ter a capacidade de aprender é a atitude de desaprender, isto é, a aceitação da caducidade dos próprios conhecimentos e a aceitação da mudança necessária. A aprendizagem de técnicas que permitam a aprendizagem contínua e as técnicas relacionadas com o uso dos meios de acesso à informação e à cultura deveriam ter papel relevante”
-“É necessário avançar em um duplo sentido. Em primeiro lugar, a habilitação de conhecimentos ou de capacidades não pode depender somente de alguns títulos escolares ou acadêmicos, pois todos sabemos até que ponto muitas habilidades são adquiridas fora desses âmbitos regulamentados. E, em segundo lugar, é necessário estabelecer um sistema periódico de renovação dessas habilidades.”
-“É preciso lutar contra o analfabetismo científico-tecnológico. A aquisição de um mínimo de conhecimentos e a familiarização com algumas técnicas simples, que a escola deve garantir, é um elemento essencial de igualdade. A não-aquisição desses hábitos será, no futuro, um elemento que definirá o nível de socialização como antes foi definido pelo ler e pelo escrever.”
-A sua última preocupação é com os métodos. “Não se pode esquecer que o objetivo do ensino não é ensinar, mas aprender. E que hoje existem ferramentas que podem tornar a aprendizagem mais fácil, menos árdua, mais adequada às necessidades de cada pessoa, menos sujeita à rigidez do espaço e do tempo. Para que isso seja possível, as ferramentas são necessárias, mas, sobretudo, é preciso modificar a forma de ensinar, porque deve ficar claro que a função de ensinar continuará sendo emprescindível, mas talvez não a de dar aula.”

Quem deve educar?

O processo educativo deve estar construído em torno de quem aprende. O indivíduo precisa ter a sua disposição ferramentas, serviços e instituições que lhe permitam o acesso ao conhecimento. Existem novas possibilidades técnicas que permitem o ensino separado das instituições, tanto no que se refere ao espaço (aprender à distância), quanto ao tempo (horários personalizados) e à organização (auto-aprendizagem). Há necessidade de um orientador o que não pode ser confundido com um processo de transmissão dos conhecimentos.Joan Majó acredita que a aprendizagem continuará a ser realizada em um contexto coletivo, no interior de uma comunidade de aprendizagem, que pode ser real ou virtual, presencial ou a distância, mas existente. Ela pode ser rural ou urbana, concentrada ou dispersa, mas estarão unidas pelo uso intenso de recursos educativos e culturais que permitam a interconexão rápida entre escolas, universidades, bibliotecas museus, serviços especializados, empresas e provedores de informação.


GÓMEZ-GRANELL, Carmen; VILA, Ignacio (orgs). A Cidade como Projeto Educativo. Porto Alegre: Artmed, 2003.

Nenhum comentário: